domingo, 27 de junho de 2010

Trivium, as Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica, parte XI

3) Poética – imitação da vida na qual o autor utiliza os personagens para se dirigir ao leitor. Como comunicação mediata (interposição de personagens e enredo), está mais sujeita a erros de interpretação.
De acordo com Miriam, é necessário aprender como interpretar a comunicação poética. Com freqüência, é o mais fácil, mais natural e mais eficaz meio de comunicação, tal como nas parábolas (que às vezes também são de difícil compreensão).

Na Poética, Aristóteles distingue seis elementos formativos da obra gramática:
  1. Enredo
  2. Personagens
  3. Pensamento dos personagens
  4. Dicção ou estilo
  5. Música
  6. Espetáculo (produção)
Tragédia – produz no público uma purificação das emoções através da compaixão e do temor (o sofrimento trágico do herói). O herói, assim, precisa ser um homem não perfeito, mas bom, cujo infortúnio provenha não de depravação ou maldade, mas por erro de julgamento ou falha em seu caráter.
Ethos –> caráter
Logos –> pensamento
Pathos –> emoções e estilo (tudo como na Retórica)
Segundo Miriam, “a Poética está numa posição única entre a história e a filosofia. É mais filosófica e de maior importância que a História porque é universal e não singular; representa o que poderia ser e não apenas o que foi através dela o ouvinte ou leitor deduz o significado da natureza íntima de uma coisa tal como esta foi percebida pelo artista. É mais comoviente do que a filosofia, pois é percebida e concretizada intensamente no indivíduo retratado e o apelo é à pessoa toda: à imaginação, aos sentimentos e ao intelecto – e não apenas ao intelecto”.

Conto – forma mais curta de narrativa com enredo (princípios aplicáveis ao romance, ao drama e à epopéia).
1) Enredo – elemento essencial e primeiro na poética. “Os personagens se revelam na ação”. Combinação de incidentes intimamente ligados à unidade da ação; começo, meio e fim (os tópicos de causa e efeito são as ferramentas de análise da poética). Narração de eventos selecionados e conectados de forma causal que surgem de conflitos e vão terminar na sua resolução.
Enredo de um conto – única situação: um personagem central enfrenta um problema, e o enredo é a solução deste. Tanto o final feliz quanto o trágico são soluções. Personagem –> problema –> solução

Elementos da ação
  1. Situação ou exposição necessária para entender a narrativa;
  2. Complicação, catalisador do conflito maior (ação ascendente);
  3. Solução ou conjunto de eventos que levam ao desfecho (declínio da ação).
triv10
Problemas da ação – necessidade da plausibilidade. Como diz Miriam, “não importa quão imaginativa ou fantástica uma trama possa ser, ela precisa criar ilusão: deve parecer real”. Para assegurar a plausibilidade, é preciso:
  1. Motivação natural e adequada;
  2. Planificação e antecipação adequadas e habilidosas, as quais incluem motivos e detalhes de cenário ou ambientação, aparência, incidente, etc;
  3. Detalhes vívidos, concretos, realistas;
  4. Criação de uma ambientação eficaz;
  5. Tom.
Início da trama – pode ocorrer em qualquer ponto da ação. Geralmente é melhor lançar-se in media res (no meio da coisa) (como faz Homero) e contar o passado (ação retrospectiva) em pontos de significância. Uma trama não pode começar por uma ação retrospectiva (≠ reminiscência).

Cenas dramáticas e não-dramáticas – constituem a narrativa. Uma cena é obrigatória se a necessidade psicológica requer uma apresentação dramática que satisfaça o interesse do leitos e que torne a estória ou um personagem convincente e plausível. Um diálogo deve favorecer o desenvolvimento do enredo, revelar o personagem e ser natural. Deve ter a qualidade da fala e se ajustar ao personagem e à situação.

O ângulo de narração
  • 1) Ponto de vista
    • 1ª pessoa – personagem principal ou não;
    • 3ª pessoa – narração onisciente;
      • Limitada
      • Ilimitada
    • 2ª pessoa – dirige-se ao leitor (raro).
  • 2) Foco – perspectiva de quem vai contar a estória. Um ângulo de narração incomum pode tornar interessante uma estória trivial. O cambiar de pontos de vista é um efeito muito interessante.
  • 3) Plano (quadro) – uma estória pode ser contada dentro do plano de outra maior.
  • 4) Grau de dramatização
    • Estória objetiva – fala e ação dos personagens;
    • Estória subjetiva – pensamentos de personagens;
  • Antecipar sinais de acontecimentos posteriores sem revelá-los altera o suspense e a plausibilidade. Suspense – curiosidade ou ansiedade aprazível criada pelo interesse na estória. Motivação dos personagens, antecipação e estrutura contribuem. Surpresa não é suspense.
  • Transição – articulações entre os segmentos da ação.
  • Técnica de apresentação – artifícios para contar uma estória.
A estrutura de uma estória
Miriam utiliza como exemplo O pedaço de barbante, por Guy de Maupassant.
Personagem: Mestre Hauchecorne.
Problema: livrar-se da suspeita de roubo.
Solução: ele não consegue se livrar e morre protestando em vão sua inocência.
Tema: as aparências enganam.
Início da ação: Hauchecorne apanhou do chão um pedaço de barbante e um inimigo seu o viu.
Ponto crítico (de decisão): acusado por um inimigo de apanhar uma carteira que havia sido roubada, livra-se da acusação mas não da suspeita de seus concidadãos.
Desenlace: esgotado por fazer-se acreditar, definha e morre, ainda em descrédito.


Personagens – figura imaginada que desempenha um papel na história.
  • Redondos – multidimensionais.
  • Planos – distingüidos por um traço notável (personagens-tipo, estereótipos).
  • Desenvolvidos
  • Não-desenvolvidos
  • Desenvolvidos a partir de tipos
  • Motivação – elo entre personagem e enredo. Plausibilidade e suspense.
  • Revelação direta (caracterização) – autor/observador descreve o personagem.
  • Revelação indireta – através do que pensa/diz/faz
  • Riqueza descritiva suspension of disbelief

Pensamento – os pensamentos e as qualidades morais dos personagens são as causas naturais da ação ou do enredo (Aristóteles)
  • Declarações gerais (ditos sentenciosos) – proposições gerais, apotegmas, provérbios que expressam uma visão universal, um juízo ou uma filosofia de vida. (Hamlet deve muito de sua qualidade filosófica a isso).
  • Tema – idéia subjacente à história toda, capaz de ser declarada em uma frase. “A um homem não deveria ser permitido que perecesse por completo” — Dostoievsky, O Ladrão Honrado
    “O sacrifício pelo bem público enaltece o sofrimento que acarreta”—Eurípedes, Ifigênia em Áulis
    “O auto-conhecimento é o primeiro passo para a maturidade” — Jane Austen, Orgulho e Preconceito

Dicção ou estilo – para Aristóteles, dicção = comunicação por meio de linguagem. Para os modernos, dicção = palavras que o autor usa; elemento do estilo. Estilo = o manuseio das palavras e dos elementos da estória. Tom = postura do autor quanto ao assunto da sua obra e os artifícios pelos quais cria essa postura (sério, severo, realista, romântico, cínico, etc.).
  • Dicção
    • Pedante ou coloquial
    • Abstrata ou concreta
    • Simples ou poética
A maioria das estórias utiliza uma gama de dicções. Tais escolhas ajudam a comunicar os elementos do enredo.
  • Sintaxe – estrutura da frase
    • Extensão
    • Construção


Trajes e cenário – dos dois últimos elementos do teatro discutidos por Aristóteles, a música hoje não é essencial, diferente das canções do coro no teatro grego (hoje em dia só na ópera e relativamente nos filmes).
  • Ambiente – muito importante na narrativa.
    • Tempo e lugar da história
    • Atmosfera (Poe grande mestre nisso). A escrita regionalista (cor local), a descrição minuciosa das localidades, vestimentas, costumes e linguagem. No naturalismo, o ambiente afeta diretamente o personagem e o enredo; o protagonista como vítima do seu meio (Émile Zola).


A obra como um todo
“As grandes narrativas poéticas mundiais levam o leitor a partilhar imaginativamente da rica e variada experiência de personagens individuais confrontados com problemas e condições de vida comuns a pessoas de todas as épocas”.
Tratar o mal como o mal, sem inspirar tentação sobre ele. Boas estórias apelam para o humano em nós. Suscitar perguntas, desenvolver respostas míticas.



Linguagem figurada

Cícero e Quintiliano – a linguagem figurada inclui qualquer alteração, quer em pensamento, quer em expressão, dos moldes de falar comuns e simples. Atalhos e variações que empregam vivacidade e brilho. Cícero – c. 90 figuras de linguagem (os mestres da Retórica da Renascença distinguem cerca de 200!)
  • Esquemas – artifícios hoje tratados como meios de aprimoramento do estilo através da gramática: variedade de estrutura, estrutura paralela e antitética, equilíbrio, ênfase, estrutura elíptica e o uso de uma categoria morfológica em lugar de outra (p. ex., substantivos usados como verbos).
    Esquemas retóricos de repetição são muito usados para enfatizar estrutura paralela, equilíbrio e ritmo (aliteração e repetição de palavras).
    Esquemas retóricos de pensamento – logos, pathos e ethos.
    122 das 200 figuras correspondem aos tópicos da lógica e às formas de raciocínio.
    (Litotes <-- --> obversão) Entimemas, silogismos disjuntivos e hipotéticos e dilemas. O conceito moderno limita-se àquilo que os retores e retóricos da Antigüidade e da Renascença chamavam de tropos.
  • Tropos – mudanças de palavras dos seus significados comuns e próprios para outros significados, não-próprios, a fim de aumentar sua força e vivacidade. É o uso imaginativo da palavra (“sua mente está enferrujada”). Possuem o poder de transmitir idéias com vivacidade n’um estilo condensado e pitoresco.
    Tropo mais importante = metáfora

    Retóricos renascentistas – 4-10 tropos
    Quintiliano – 14 tropos
    Irmã Miriam – 8 tropos

    • 1) Tropos de similaridade
      • A.Comparação por símile
        “Como”, “assim”, “qual”, “do mesmo modo que”, “tal como”, “tão”, “igualmente” ou “assemelha-se”. Comparação imaginativa entre objetos de classes diferentes. (estritamente falando, não é um tropo, já que não há alteração do sentido próprio das palavras, mas sua semelhança com a metáfora é tão grande que tal distinção técnica é aqui ignorada). “João é forte como um touro”. “É que teu riso penetra n’alma como a harmonia de uma orquestra santa” — Castro Alves
      • B.Metáfora – expressa, sem usar um conectivo, a identificação figurada de objetos similares de classes diferentes. “Maria é um doce”. “O senhor é meu pastor, nada me faltará, faz-me repousar em pastos verdejantes, leva-me para junto das águas de descanso, refrigera-me a alma” Salmo 23 “Minha vida se inclinou murcha, uma folha amarela no outono” — Macbeth 5.3.22-23
      • C.Onomatopéia – uso de vocábulos cuja pronúncia tenta imitar o som da coisa significada – na Gramática. Na poesia, é a combinação de sons e sentidos para dar ênfase ao significado expresso pelo poema.
        “Ouves acaso quando entardece vago murmúrio que vem do mar, vago murmúrio que mais parece voz de uma prece morrendo no ar?”
        — Vicente de Carvalho, “Cantigas praianas”.
      • D.Prosopopéia (personificação) – atribuição de vida, sensação e qualidades humanas a objetos de uma ordem mais baixa ou a idéias abstratas. “Aquele foi um dia triste”. “A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre ator”. “Lágrimas correndo piedosas”.
      • E.Antonomásia
        1) Nome próprio substitui uma qualidade associada a ele e passa a ser usado como nome comum.
        2) Uma expressão substitui um nome próprio.
        “Ele era um Einstein para resolver problemas”.
        “Wall Street caiu hoje após más notícias financeiras”.
    • 2) Tropos de relação entre sujeito e adjunto e entre causa e efeito
      • A.Metonímia – adjunto por sujeito, sujeito por adjunto, efeito por causa, ou causa por efeito (eficiente, final, material, formal).
        “Remindo o tempo, porque os dias são maus” —Efésios, 5:16
        “Calais estava povoada de novidades e encantos”.
        “Que minhas mãos caiam podres e nunca mais empunhem o aço da vingança” — Ricardo II.
      • B.Metalepse – uma metonímia onde o efeito é significado por causa remota. “Vossos cabelos de jacinto, vosso semblante clássico, vossos ares de náiade trouxeram-me de volta ao lar, à glória da Grécia e ao esplendor de Roma” —Poe, To Helen
    • 3) Tropo de divisão
      • Sinédoque – substitui o todo pela parte, a parte pelo todo, o gênero pela espécie, ou a espécia pelo gênero.
        “Ele me deu uma mãozinha”.
        “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. —Lucas 11:3
        “Tal como um par de leões lambuzados da vítima”.
    • 4) Tropo de contrários
      • Ironia – “tenho por ti tanto amor que em breve mandarei tua alma para o paraíso” —Ricardo III
        “O locutor falava com a suavidade de uma gralha”.
Figuras de linguagem ineficazes
1) Figuras misturadas – mistura de duas ou mais comparações. “A flor da nossa juventude é o fundamento sobre o qual construiremos até que nossa luz brilhe para o mundo todo.”
2) Clichês, lugares-comuns, chavões – figuras muito repetidas. “Corajosos como leões”. “Espertos feito raposas”.





Poesia e versificação
  • Poesia narrativa – drama (teatro), epopéia, balada e romance (mesmas aplicações do que foi feito à narrativa com enredo).
  • Poesia didática (expositiva) – merece o nome de poesia se tiver pensamento, estilo e ritmo. (De Rerum Natura de Lucrécio, Essay on Criticism de Pope)
  • Poesia lírica – canção, hino, soneto, ode, rondó e várias outras. Expressa mais os sentimentos, impressões e reflexões do poeta. O teatro desenvolveu-se a partir da poesia lírica.

Aristóteles e os modos de imitação
Música –> ritmo e harmonia
Dança –> ritmo
Poesia –> ritmo e linguagem (métrica)

Para os clássicos e neoclássicos, a poesia deve ser objetiva e apelar ao intelecto – atingir a beleza através de formas que ordenem perfeitamente a matéria.
Para os românticos, a poesia deve ser subjetiva e apelar aos sentimentos – atingir a beleza através do livre e espontâneo jogo de imaginação e idéias sobre um material que pode ser tanto pitorescamente estranho quanto familiar e corriqueiro.

Em geral, contudo, ressalta Miriam, a poesia é comunicação de experiência, de emoção e também de pensamento, que abarca o universal sob o particular refletindo algum aspecto da beleza e da verdade.

A linguagem da poesia se distingue pelo ritmo acentuado, embora para Aristóteles e Wordsworth a métrica não seja essencial.

Energia, vivacidade, riqueza de imagens, agudeza e compressão (muito significado em poucas palavras).
“A poesia comunica experiência que não pode ser expressa de nenhuma outra maneira. O poeta vê e sente com uma profundidade e intensidade além daquela de uma pessoa comum; o poeta comunica não apenas pensamento, mas essa experiência. Ler poesia é partilhar da experiência do poeta.”.
A forma da poesia deriva de sua própria perfeição; está, igualmente, embutida no significado e o expressa. (o oposto da poesia não é a prosa, mas o trivial, o prosaico)

Elementos de forma
  • 1) Ritmo
    • Paralelismo (parallelismus membrorum) – principal artifício rítmico da poesia hebraica. Repetição de pensamento em diferentes palavras, ou desdobramento de um só pensamento em dois membros paralelos.
      “Gasta-se a minha vida na tristeza; e meus anos em gemidos”.
      “Porque um instante dura a sua cólera; a vida inteira a sua benevolência”. —Salmos (segundo Miriam, sem paralelismos, os salmos são prosaicos)
    • Cesura (poesias anglo-saxã, grega, latina e línguas modernas) – pausa ou corte num verso, geralmente no meio ou próximo dele. O verso aliterado dos anglo-saxões à cesura + aliteração = ritmo nítido e forte.
      We Twain had talked, in time of youth and made our boast // we were merely boys, stripplings still, // to stake our lives far at sea: and so we performed it.” — Beowulf
    • Cadência – quedas e elevações da voz.
      • Verso livre (vers libre) – usa a cadência inerente à língua. Trazido à atenção moderna pelos simbolistas frances do final do séc. XIX. Também encontrado na Bíblia (Salmos e Cânticos de Salomão).
    • Métrica (versificação) – ritmo medido conforme um padrão regular e predeterminado de sílabas longas e breves. Principal artifício rítmico da poesia inglesa.
      • 1.Unidade Métrica = pé = uma sílaba acentuada e uma ou mais não acentuadas.
        • A) Dissilábico
          • Iambo (Jambo) – sílaba breve, sílaba longa (ca-rouse’).
          • Troqueu – sílaba longa, sílaba breve (un’-der)
        • B) Trissilábico
          • Dáctilo – sílaba longa, sílaba breve, sílaba breve (si’-len-tly).
          • Anapesto - sílaba breve, sílaba breve, sílaba longa (in-ter-fere’).
          • Anfíbraco – sílaba breve, sílaba longa, sílaba breve (in-sis’-ted).
      • 2.Escansão – marcação (oral ou escrita) do pé do verso. De acordo com o número de pés, o verso pode ser: monômetro, dímetro, trímetro, tetrâmetro, etc.
      • 3.Variações (como as síncopes na música)
        • Catalexe – supressão de 1 ou 2 sílabas breves no fim do verso;
        • Terminação feminina – adição de 1 ou 2 breves ao fim do verso;
        • Anacruse – adição de 1 ou 2 breves no início;
        • Truncado – supressão de 1 ou 2 breves no início;
        • Espondeu – pé com 2 sílabas tônicas (geralmente substituído por algum dáctilo);
        • Pirríquito/díbraco – pé com 2 sílabas átonas (breves).
      • Ritmo (fraseado do verso) ≠ métrica (o padrão de pensamento pode não coincidir com o padrão métrico)
        Segundo Miriam, “o verso pobre (não artístico) resulta da coincidência exata demais entre ritmo e métrica. Na boa poesia, o ritmo raramente corresponde à métrica com exatidão, ainda que com ela se harmonize e possas ser metricamente perfeito”. A variação se realiza dentro da ordem pelo uso de artifícios sutis e artísticos (como uma música clássica e um bom texto, afinal de contas).
  • 2) Rima (precisa começar nas sílabas tônicas)
    • Masculina (aguda) (oxítona) – sílaba final tônica em rima (reign, gain, hate, debate);
    • Feminina (grave) (paroxítona) – duas ou mais sílabas rimando (unruly, truly, towering, flowering).
    • Variações de rima
      • Rima imperfeita (insuficiente) – palavras não idênticas nos sons rimados (heaveneven; geesebees; ritmos – legítimos);
      • Rima visual – palavras parecidas graficamente, mas não foneticamente (seven even; love prove).
  • 3) Assonância – repetição de uma vogal no meio de duas ou mais palavras no mesmo verso. “A hand that can be clasped no more”.
  • 4) Aliteração –repetição do mesmo som ou sílaba no início de duas ou mais palavras no mesmo verso. “What a tale of terror now their turbulency tells”.
  • 5) Onomatopéia
  • 6) A estrofe – unidade do discurso métrico como o parágrafo na prosa (contudo, poetas como Tennyson deixam um poema “correr” mesmo entre estrofes).
  • 7) Formas de discurso métrico
    • Verso branco/solto (blank verse) – na poesia inglesa, é o pentâmetro iâmbico sem rima (o pentâmetro iâmbico é a mais importante métrica inglesa, pois não é nem curto nem longo). Shakespeare e outros dramaturgos da Renascença seguiram o caminho estabelecido por Christopher Marlowe e utilizaram o verso branco.
    • Dístico heróico (heroic couplet) – parelha (estrofe de 2 versos – copla) de pentâmetros iâmbicos rimados. Muito popular na Inglaterra do séc. XVIII por servir tanto a máximas morais quanto a ditos espirituosos ou chistosos.
      Know then thyself, presume not god to scan; the proper study of mankind is man.” Alexander Pope
    • Quadra heróica (heroic quatrain) – quatro versos pentâmetros iâmbicos rimados –> abab
    • Soneto italiano (petrarquiano) – soneto – 14 versos. Escrito em pentâmetros iâmbicos. 1 oitava (ou 2 quartetos) e 1 sextilha (ou 2 tercetos).
    • Soneto inglês (shakespeariano) (não o criou, mas o popularizou) – três quadras heróicas seguidas de um dístico rimado. Pentâmetros iâmbicos –> abab cdcd ef ef gg
    • Estrofe spenseriana (estância spenseriana) – 9 versos rimados à (pent. iâmbicos) ababbcbcc> hexâmetro iâmbico (“alexandrino” – vem de Roman D’Alexandre, composição iniciada por Lambert Le Tort e continuada por Alexandre de Bernay no séc. XII). Edmund Spenser (1552?-1599) – The Faerie Queene. Lord Byron usou-a em seu Childe Harold’s Pilgrimage.
    • Rondó – poema em 15 versos/3 estrofes –> aabba aab refrão aabba refrão (= uma palavra, uma oração ou uma locução do verso de abertura).
    • Triolé – estrofe de 8 versos –> AbaAabAB (maiúsculas = versos repetidos).
    • Limerick – única forma de poesia nativa inglesa. 5 versos e o pé dominante é o anapéstico.
    • Cinquain – verso livre com 22 sílabas/5 versos. Imaginado por Adelaide Crapsey (modelo sobre as formas japonesas hokku e tanka).


No próximo post, enfim a parte derradeira deste grande resumo do Trivium de Miriam, no qual exporemos o conceito de Ensaio com dicas de composição.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Trivium, as Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica, parte X

Filosofia especulativa

Conhecimento da ordem real por amor ao conhecimento.
Abstrações
  1. Física (mundo material; abstrações das condições individuais. Preocupa-se com leis gerais e o tipo universal)
  2. Matemática (abstrai quantidade para consideração)
  3. Metafísica (abstrai o ser como ser)
Filosofia prática (normativa)
  1. Lógica – dirige o intelecto à verdade;
  2. Ética – ação, vontade para o bem;
  3. Estética – expressão; dirige o intelecto, os sentidos e as emoções para a beleza e sua contemplação.

A abstração é o fundamento dos campos científicos. Somente por abstração que o ser humano avança no conhecimento. Nenhuma ciência nos dá toda a verdade, e todas juntas nos dão uma verdade limitada, pois a mente humana é limitada. Pensar que o aspecto único que uma ciência abstrai é toda a verdade deturpa o conhecimento à perigo da especialização (abstratismo).

Por isso, a filosofia chega mais perto de nos dar a verdade completa, porque harmoniza todas essas descobertas (e inclusive as guia), na medida em que só podemos conhecê-la pela razão.

A teologia é um complemento com o conhecimento que a razão por si só não pode oferecer. A revelação – conhecimento especulativo + conhecimento prático a partir de Deus, o fim último do homem.


Defesa da Filosofia Perene


A lógica da Filosofia Perene apresentada por Miriam é desdenhada em muitas universidades como obsoleta e imprópria para uma era científica. O positivismo lógico admite como cognoscível apenas a experiência sensível da matéria e as relações de coexistência e sucessão nos fenômenos naturais. Nega o espírito, o intelecto e a capacidade de conhecer a essência (a crítica da irmã em 1937 era legítima. Hoje o Positivismo Lógico é considerado extinto).

A semântica moderna considera não só as palavras, mas as idéias, como arbitrárias e cambiantes, e não como representação de coisas que existem. A nova lógica matemática/simbólica torna-se mera manipulação de símbolos capazes de serem testados por sua coerência interna, um absurdo.

Para a Filosofia Perene, símbolos tais como os do silogismo representam um grau de abstração mais elevado e relações mais claras do que podem as palavras.



Composição e leitura


O desenvolvimento da lógica, retórica e poética.

Retórica – origem na Sicília, ao estabelecer-se uma democracia em Siracusa no ano de 466 a.C. – Corax e seu pupilo Tísias davam assistência aos expatriados para convencer os magistrados quanto às suas reinvidicações de restituição.
Corax – reuniu alguns preceitos teóricos com base principalmente no tópico da propabilidade geral (eikos) (ver Aristóteles, Retórica, 2-24.9).
Tísias – desenvolveu-o um pouco mais (ver Platão no Fedro).
Górgias – introduziu a retórica em muitas partes da Grécia, onde teve muitos discípulos (dentre eles, Isócrates). Górgias, Protágoras, Pródico e Hípias exaltavam a retórica e sua arte. Górgias reconhecia ensinar não a virtude, mas a persuasão. Platão e Aristóteles, logicamente, condenavam todos estes. O próprio Aristóteles visou transformar a retórica n’um instrumento da verdade. Afirmava ser o fundador da arte da Lógica (e o é!). Sua Poética é o princípio da verdadeira crítica literária.

1) Lógica (divisão aristotélica):
A) Analíticos Posteriores – demonstração científica cujo tema são as premissas verdadeiras, essenciais e certas. Raciocínio meramente expositivo, (re)conclusivo. Os Analíticos Primeiros lidam com a certeza pela forma.
B) Tópicos (Topica) – dialética tem como tema a opinião, não o conhecimento absolutamente certo (premissas prováveis). Debate conduzido n’um espírito de inquirição e amor. Os “diálogos” de Platão são o exemplo perfeito.
C) Refutações Sofísticas (falácias materiais) – Sofística = premissas que aparentam ser geralmente aceitas e apropriadas, mas que realmente não o são. A aparência da verdade como objetivo. Criticar e humilhar o “oponente” n’um debate contencioso. Hoje em dia, a Sofística é o “debate” de idéias, claramente (culpa do Nominalismo-subjetivismo).
2) Retórica – a outra face da Dialética (Aristóteles):










Modos de persuasão (Aristóteles)
A) Persuasão – obtida pelo logos, pathos e ethos.
  • Logos – requer que o emissor convença o público pela verdade que diz.
  • Pathos – disposição mental favorável ao convencimento do público.
  • Ethos – inspirar no público, por qualidade pessoal, confiança na sua figura.
B) Estilo – boa dicção, boa estrutura gramatical, cadência (ritmo) agradável; linguagem clara e apropriada, metáfora eficaz, etc.
C) Organização – ordem das partes: introdução, declaração e prova (conclusão).


No próximo post, o resumo da arte poética.

sábado, 5 de junho de 2010

Trivium, as Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica, parte IX

Indução

Requisitos de veracidade:
  1. O pensado deve representar o que é (norma da concepção e da indução ) – material do raciocínio.
  2. Pensamentos devem ser consistentes entre si (norma da dedução) – raciocínio mesmo.
Lógica dedutiva (formal) –> regras para o pensamento (o framework do pensamento).
Concepção/indução –> material do pensamento (a experiência).

Aquisição de conhecimento

O conhecimento (qualquer informação que a mente possua) é derivado da operação das próprias faculdades de alguém, ou da fé.
Faculdades humanas
  • Sentidos
    • Externos (os cinco)
    • Internos (imaginação, memória, senso comum – “sentido dos sentidos” – e instinto)
    • Forma intuitiva – percepção imediata dos sensíveis característicos.
    • Forma indireta – percepção indireta dos sensíveis comuns (que são captados por mais de um sentido).
  • Faculdades intelectuais
    • Intuição (abstração: concepção, indução)
    • Inferência
      • Imediata
      • Mediata (silogística)
– tudo que se sabe por testemunho de um outro (humano ou divino).


Indução: uma forma de intuição
(e não de inferência).

Toda proposição geral que se sirva como uma premissa n’uma inferência silogística é ou conclusão de um silogismo ou de uma série de silogismos construídos somente de proposições gerais, ou uma indução ou intuição obtida da natureza.
 Isto porque não há meio dedutivo (formal) de se extrair conclusão a partir de duas premissas empíricas. Segundo Miriam, há até hoje muita discussão sobre este tópico.

A indução é um ato mental, mas não uma inferência; é preliminar e pré-requisito à inferência. É uma intuição da verdade.


Tipos de indução

  • Numerativa – afirmação empírica plural e numericamente definida como resultado da observação de fatos e contagem de casos. É o tipo menos importante de indução. Dedução estatística = indução enumerativa (premissa menor) + lei estatística/matemática (premissa maior).
  • Intuitiva – afirmar como verdadeira uma proposição auto-evidente. De longe, o tipo mais importante de indução. Se a proposição for auto-evidente e geral, não pode ser empírica, pois, do contrário, será um dado de conhecimento sensível.
  • Dialética ou problemática – afirmar uma proposição como uma possibilidade, sem qualquer cálculo de sua probabilidade à intuição da compatibilidade dos termos. “Um polígono pode ter um milhão de lados”.

Natureza e propósito da indução
Casos individuais –> (observação) –> proposições gerais

Indução = método para descobrir a verdade, e não um processo de prova ou raciocínio sobre ela.
Como o mundo é por demais complexo, são necessárias ferramentas para muito trabalho preliminar: as metodologias
“É preliminar a indução em fenômenos complexos, tanto quanto a própria indução é preliminar à dedução. Indução e dedução são distintas, mas, na prática, andam lado a lado”
Cada uma das ciências especiais pretende abstrair do fenômeno complexo natural leis que rejam aquele especto da natureza que trata.
Ciência = conhecimento dos fatos através das causas (scientia).


Causalidade

Causa “o que tem influência positiva no fazer uma coisa ser o que é”. “Uma causa não é um mero antecedente n’uma seqüência temporal” (cuidado com a falácia post hoc ergo propter hoc).
Condição aquilo que habilita ou permite a uma causa agir na produção de um efeito, mas à qual o efeito não deve suas características. “A alimentação é condição para a boa saúde”.
Agente determinante – condição que põe em movimento os fatores causais. Difere das outras condições por ser origem ou ocasião do efeito.

As quatro causas metafísicas (Aristóteles) – explicam todo efeito.
  • Extrínsecas ao efeito (causas de algo ter-se tornado o que é)
    • Causa eficiente – agente + instrumentos (escultor, martelo, cinzel)
    • Causa final – fim ou propósito que moveu o agente (amor à arte). 1ª na intenção e último na execução.
  • Intrínsecas ao efeito (causas de algo ser o que é)
    • Causa material – aquilo a partir do qual é feita a coisa (mármore).
    • Causa formal – tipo de coisa na qual esta é transformada (estátua de Lincoln)


Princípio da uniformidade da natureza

Postulado de todas as ciências naturais, é uma suposição necessária fisicamente (não metafisicamente), não passível de prova, mas de ilustração.
A mesma causa natural, sob condições similares, produz o mesmo efeito.
  • Não aplicável a um ser dotado de livre-arbítrio.
  • Requer a concorrência, ou concomitância, da causa primeira (segundo Miriam, milagres representam um desvio da uniformidade da natureza – livre-arbítrio da causa primeira).
“Este último princípio [o da causalidade, não o da uniformidade] é um axioma filosófico, cognoscível pela indução intuitiva”
Axiomas filosóficos > postulados científicos


O método científico
  • Observação – caminho para os dados da indução. Seleção e análise. Obtenção de fatos livres de inferência (não exatamente, né? Ao menos de inferência intelectual consciente). Uso de instrumentos materiais.
    (experimentos – observação sob condições sujeitas a controle. Ciências com esta ferramenta avançam muito mais rápido – física, química, bacteriologia, etc.)
  • Analogia – fértil fonte de hipóteses causais. A tabela periódica de elementos teve seu início na analogia.
  • Hipótese – conjectura científica com base em leis gerais. Guiam a observação e o experimento. São confirmadas ou derrubadas.
  • Análise e separação de dados (metodologia científica) – Roger Bacon (1214?-1294) enfatizou a importância da ciência experimental e a sua posição nos estudos cristãos. Francis Bacon (1561-1626) desenvolveu uma teoria da indução. John Stuart Mill (1806-1873) formulou 5 cânones de ciência e os popularizou:
    • Método de concordância
      Se dois ou mais casos de um fenômeno sob investigação têm apenas uma circunstância em comum, a circunstância única na qual todos os casos concordam é a causa ou o efeito do tal fenômeno.
    • Método de diferença
      Se um caso no qual um fenômeno sob investigação ocorre e um caso no qual ele não ocorre somente têm todas as circunstâncias em comum, exceto uma, e esta ocorre somente no primeiro, a circunstância única na qual os dois casos diferem é o efeito ou a causa ou uma parte indispensável da causa do fenômeno.
    • Método de combinação de concordância e diferença
      Se duas ou mais casos nos quais um fenômeno ocorre têm apenas uma circunstância em comum, enquanto dois ou mais casos nos quais o fenômeno não ocorre não têm nada em comum exceto a ausência daquela circunstância, esta mesma é o efeito ou a causa ou uma parte indispensável da causa.
    • Método de resíduos
      Subtraia-se de qualquer fenômeno a parte que, segundo induções prévias, constitui o efeito de certos antecedentes, e resultará que o resíduo do fenômeno é o efeito dos antecedentes restantes.
    • Método de variações concomitantes
      O fenômeno que varia de alguma maneira enquanto outro fenômeno varia em algum aspecto particular é ou a causa ou um efeito desse fenômeno, ou está relacionado a ele por alguma causa.
  • Verificação das hipóteses – “Francis Bacon não apenas antecipou a substância dos cânones de Mill, mas também indicou os passos subseqüentes na descoberta de leis científicas”. A abstração das causas.
  • Exclusão (eliminação) – raciocínio dedutivo a partir de proposição disjuntiva.
    • Premissas menores –> proposições empíricas
    • Premissas maiores –> cânones dos métodos científicos gerais

      “A causa de X é ou A ou B ou C ou D”
      Um exemplo formal da aplicação do princípio da uniformidade:
      1. Apenas A está presente quando X está ausente. A causa de X não pode estar presente quando X estiver ausente. Portanto, A não é causa de X.
      2. O está ausente quando X está presente. Portanto, B não é a causa de X.
      3. C não varia concomitantemente com X. Portanto, C não é causa de X.
      Provavelmente, a causa de X é D.
      1) As alternativas do disjuntivo não são uma mera enumeração, mas devem se excluir (aqui a analogia é muito importante).
      2) A mera exclusão não dá certeza (p. ex., não sabemos se todas as alternativas tenham sido descobertas).
      A conclusão representa o grau de simplificação que o método científico pode atingir.
  • Indução intuitiva – a mente confirma ou desconfia que a causa de X é D – e então ou se prossegue ou se retorna a uma observação.
  • Aplicação e demonstração por indução – a certeza resultante precisa ser demonstrada por um silogismo regressivo: juízo (conclusão) intuitivo –> premissas. Inverso: conclusão –> premissa menor –> premissa maior (elo entre indução e dedução). Ou demonstrativo: verificação prática da hipótese por dedução.
    Hipótese aplicada mais repetidas vezes. Confirmada, vira uma premissa maior num silogismo cuja menor é uma proposição empírica intuída da natureza observada à conclusão = proposição empírica, que é então testada das mais variadas formas, e, confirmada sua validez natural, vira uma lei da natureza, que por sua vez passará pelo “tribunal da razão humana” (dedução + indução).
    Nas palavras de Miriam:
    “A dedução leva à consistência na ordem conceitual, e a indução leva à promessa fidedigna de que esta ordem conceptual representa fielmente a ordem real”.
    Buscar um termo médio é um processo indefinido e inverso (na nossa observação da natureza, intuímos S é P, mas S é P porque M! “Todo o problema da descoberta das leis da natureza consiste no problema de descobrir M”)


Filosofia no campo do conhecimento

A filosofia representa a maior unidade e simplicidade que a razão humana desamparada pode atingir.

O avanço em direção à unidade ( símbolo da tétrada)
História 4.Experiência Uma pedra cai
Ciência 3.Ciência Lei da gravidade
Filosofia 2.Filosofia Princípio da causa
Teologia 1.Visão beatífica Unidade da perfeita verdade: a totalidade do Um. A Teologia e a Fé nos preparam para a visão beatífica depois da morte.



Na próxima parte, o resumo sobre a filosofia especulativa e a visão de Miriam a respeito da Filosofia Perene.