sábado, 5 de junho de 2010

Trivium, as Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica, parte IX

Indução

Requisitos de veracidade:
  1. O pensado deve representar o que é (norma da concepção e da indução ) – material do raciocínio.
  2. Pensamentos devem ser consistentes entre si (norma da dedução) – raciocínio mesmo.
Lógica dedutiva (formal) –> regras para o pensamento (o framework do pensamento).
Concepção/indução –> material do pensamento (a experiência).

Aquisição de conhecimento

O conhecimento (qualquer informação que a mente possua) é derivado da operação das próprias faculdades de alguém, ou da fé.
Faculdades humanas
  • Sentidos
    • Externos (os cinco)
    • Internos (imaginação, memória, senso comum – “sentido dos sentidos” – e instinto)
    • Forma intuitiva – percepção imediata dos sensíveis característicos.
    • Forma indireta – percepção indireta dos sensíveis comuns (que são captados por mais de um sentido).
  • Faculdades intelectuais
    • Intuição (abstração: concepção, indução)
    • Inferência
      • Imediata
      • Mediata (silogística)
– tudo que se sabe por testemunho de um outro (humano ou divino).


Indução: uma forma de intuição
(e não de inferência).

Toda proposição geral que se sirva como uma premissa n’uma inferência silogística é ou conclusão de um silogismo ou de uma série de silogismos construídos somente de proposições gerais, ou uma indução ou intuição obtida da natureza.
 Isto porque não há meio dedutivo (formal) de se extrair conclusão a partir de duas premissas empíricas. Segundo Miriam, há até hoje muita discussão sobre este tópico.

A indução é um ato mental, mas não uma inferência; é preliminar e pré-requisito à inferência. É uma intuição da verdade.


Tipos de indução

  • Numerativa – afirmação empírica plural e numericamente definida como resultado da observação de fatos e contagem de casos. É o tipo menos importante de indução. Dedução estatística = indução enumerativa (premissa menor) + lei estatística/matemática (premissa maior).
  • Intuitiva – afirmar como verdadeira uma proposição auto-evidente. De longe, o tipo mais importante de indução. Se a proposição for auto-evidente e geral, não pode ser empírica, pois, do contrário, será um dado de conhecimento sensível.
  • Dialética ou problemática – afirmar uma proposição como uma possibilidade, sem qualquer cálculo de sua probabilidade à intuição da compatibilidade dos termos. “Um polígono pode ter um milhão de lados”.

Natureza e propósito da indução
Casos individuais –> (observação) –> proposições gerais

Indução = método para descobrir a verdade, e não um processo de prova ou raciocínio sobre ela.
Como o mundo é por demais complexo, são necessárias ferramentas para muito trabalho preliminar: as metodologias
“É preliminar a indução em fenômenos complexos, tanto quanto a própria indução é preliminar à dedução. Indução e dedução são distintas, mas, na prática, andam lado a lado”
Cada uma das ciências especiais pretende abstrair do fenômeno complexo natural leis que rejam aquele especto da natureza que trata.
Ciência = conhecimento dos fatos através das causas (scientia).


Causalidade

Causa “o que tem influência positiva no fazer uma coisa ser o que é”. “Uma causa não é um mero antecedente n’uma seqüência temporal” (cuidado com a falácia post hoc ergo propter hoc).
Condição aquilo que habilita ou permite a uma causa agir na produção de um efeito, mas à qual o efeito não deve suas características. “A alimentação é condição para a boa saúde”.
Agente determinante – condição que põe em movimento os fatores causais. Difere das outras condições por ser origem ou ocasião do efeito.

As quatro causas metafísicas (Aristóteles) – explicam todo efeito.
  • Extrínsecas ao efeito (causas de algo ter-se tornado o que é)
    • Causa eficiente – agente + instrumentos (escultor, martelo, cinzel)
    • Causa final – fim ou propósito que moveu o agente (amor à arte). 1ª na intenção e último na execução.
  • Intrínsecas ao efeito (causas de algo ser o que é)
    • Causa material – aquilo a partir do qual é feita a coisa (mármore).
    • Causa formal – tipo de coisa na qual esta é transformada (estátua de Lincoln)


Princípio da uniformidade da natureza

Postulado de todas as ciências naturais, é uma suposição necessária fisicamente (não metafisicamente), não passível de prova, mas de ilustração.
A mesma causa natural, sob condições similares, produz o mesmo efeito.
  • Não aplicável a um ser dotado de livre-arbítrio.
  • Requer a concorrência, ou concomitância, da causa primeira (segundo Miriam, milagres representam um desvio da uniformidade da natureza – livre-arbítrio da causa primeira).
“Este último princípio [o da causalidade, não o da uniformidade] é um axioma filosófico, cognoscível pela indução intuitiva”
Axiomas filosóficos > postulados científicos


O método científico
  • Observação – caminho para os dados da indução. Seleção e análise. Obtenção de fatos livres de inferência (não exatamente, né? Ao menos de inferência intelectual consciente). Uso de instrumentos materiais.
    (experimentos – observação sob condições sujeitas a controle. Ciências com esta ferramenta avançam muito mais rápido – física, química, bacteriologia, etc.)
  • Analogia – fértil fonte de hipóteses causais. A tabela periódica de elementos teve seu início na analogia.
  • Hipótese – conjectura científica com base em leis gerais. Guiam a observação e o experimento. São confirmadas ou derrubadas.
  • Análise e separação de dados (metodologia científica) – Roger Bacon (1214?-1294) enfatizou a importância da ciência experimental e a sua posição nos estudos cristãos. Francis Bacon (1561-1626) desenvolveu uma teoria da indução. John Stuart Mill (1806-1873) formulou 5 cânones de ciência e os popularizou:
    • Método de concordância
      Se dois ou mais casos de um fenômeno sob investigação têm apenas uma circunstância em comum, a circunstância única na qual todos os casos concordam é a causa ou o efeito do tal fenômeno.
    • Método de diferença
      Se um caso no qual um fenômeno sob investigação ocorre e um caso no qual ele não ocorre somente têm todas as circunstâncias em comum, exceto uma, e esta ocorre somente no primeiro, a circunstância única na qual os dois casos diferem é o efeito ou a causa ou uma parte indispensável da causa do fenômeno.
    • Método de combinação de concordância e diferença
      Se duas ou mais casos nos quais um fenômeno ocorre têm apenas uma circunstância em comum, enquanto dois ou mais casos nos quais o fenômeno não ocorre não têm nada em comum exceto a ausência daquela circunstância, esta mesma é o efeito ou a causa ou uma parte indispensável da causa.
    • Método de resíduos
      Subtraia-se de qualquer fenômeno a parte que, segundo induções prévias, constitui o efeito de certos antecedentes, e resultará que o resíduo do fenômeno é o efeito dos antecedentes restantes.
    • Método de variações concomitantes
      O fenômeno que varia de alguma maneira enquanto outro fenômeno varia em algum aspecto particular é ou a causa ou um efeito desse fenômeno, ou está relacionado a ele por alguma causa.
  • Verificação das hipóteses – “Francis Bacon não apenas antecipou a substância dos cânones de Mill, mas também indicou os passos subseqüentes na descoberta de leis científicas”. A abstração das causas.
  • Exclusão (eliminação) – raciocínio dedutivo a partir de proposição disjuntiva.
    • Premissas menores –> proposições empíricas
    • Premissas maiores –> cânones dos métodos científicos gerais

      “A causa de X é ou A ou B ou C ou D”
      Um exemplo formal da aplicação do princípio da uniformidade:
      1. Apenas A está presente quando X está ausente. A causa de X não pode estar presente quando X estiver ausente. Portanto, A não é causa de X.
      2. O está ausente quando X está presente. Portanto, B não é a causa de X.
      3. C não varia concomitantemente com X. Portanto, C não é causa de X.
      Provavelmente, a causa de X é D.
      1) As alternativas do disjuntivo não são uma mera enumeração, mas devem se excluir (aqui a analogia é muito importante).
      2) A mera exclusão não dá certeza (p. ex., não sabemos se todas as alternativas tenham sido descobertas).
      A conclusão representa o grau de simplificação que o método científico pode atingir.
  • Indução intuitiva – a mente confirma ou desconfia que a causa de X é D – e então ou se prossegue ou se retorna a uma observação.
  • Aplicação e demonstração por indução – a certeza resultante precisa ser demonstrada por um silogismo regressivo: juízo (conclusão) intuitivo –> premissas. Inverso: conclusão –> premissa menor –> premissa maior (elo entre indução e dedução). Ou demonstrativo: verificação prática da hipótese por dedução.
    Hipótese aplicada mais repetidas vezes. Confirmada, vira uma premissa maior num silogismo cuja menor é uma proposição empírica intuída da natureza observada à conclusão = proposição empírica, que é então testada das mais variadas formas, e, confirmada sua validez natural, vira uma lei da natureza, que por sua vez passará pelo “tribunal da razão humana” (dedução + indução).
    Nas palavras de Miriam:
    “A dedução leva à consistência na ordem conceitual, e a indução leva à promessa fidedigna de que esta ordem conceptual representa fielmente a ordem real”.
    Buscar um termo médio é um processo indefinido e inverso (na nossa observação da natureza, intuímos S é P, mas S é P porque M! “Todo o problema da descoberta das leis da natureza consiste no problema de descobrir M”)


Filosofia no campo do conhecimento

A filosofia representa a maior unidade e simplicidade que a razão humana desamparada pode atingir.

O avanço em direção à unidade ( símbolo da tétrada)
História 4.Experiência Uma pedra cai
Ciência 3.Ciência Lei da gravidade
Filosofia 2.Filosofia Princípio da causa
Teologia 1.Visão beatífica Unidade da perfeita verdade: a totalidade do Um. A Teologia e a Fé nos preparam para a visão beatífica depois da morte.



Na próxima parte, o resumo sobre a filosofia especulativa e a visão de Miriam a respeito da Filosofia Perene.

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