terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Consolação da Filosofia, por Boécio - V

Fortuna e Providência

Nada é criado sem propósito.

Providência = razão divina(conhecimento de tudo antes de acontecer)
A imagem do quadro na mente.

Destino (fortuna) = o trabalho de Deus dia a dia (destinação de formas, lugares, estações, proporções a todas as coisas)
O quadro sendo pintado.

Antes de acontecer, é providência; acontecido, é destino.

Nem tudo está sujeito ao destino, mas o que está sujeito ao destino forçosamente está sujeito à divina Providência.

A Filosofia expõe uma analogia sensacional:

As rodas de uma carroça giram sobre o eixo estático (Deus); o centro da roda (o homem bom e sábio) gira mais firme do que as bordas; os raios da roda são como os homens médios, em uma extremidade firmes e na outra muito rápidos (os maus) (assim, mesmo os piores homens estão conectados com Deus). A roda é o destino (roda da fortuna); o eixo é a Providência.

Todo destino é bom, pois ou recompensa ou pune.

A Filosofia questiona o julgamento dos homens sobre outros homens. Sabemos de suas ações, mas e do que se passa em seus espíritos, sabemos?

Ninguém é melhor avalista da alma do que Deus. Ele pune os maus e honra os bons. Muito acontece de julgarmos um homem como Deus nos julga. Há homens muito maus que não põem seus desejos em ação e vice-versa. Alguns bons homens podem ter seu poder arrancado para não comprometerem sua bondade. O homem sábio não deve amar a felicidade mundana além da conta, pois seguido ela é dada aos piores homens.

A Filosofia salmodia sobre a incrível ordem e harmonia do universo, o amor que tudo tem em seu servir a Deus, e o contentamento com o governo divino; do contrário, nada existiria. Servir ao Criador é existir.

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Sobre o livre-arbítrio

Boécio pergunta se temos livre-arbítrio, face à predestinação.

A Filosofia responde que todo homem possui liberdade, considerando que ele sabe o que quer. A razão traz discernimento, e o discernimento é o livre-arbítrio. Quanto mais próxima de Deus a mente do homem, mais livre; quanto mais presa a este mundo, menos livre.

Boécio fica perplexo com uma nova dúvida: se Deus predestina, como permite que o mal seja escolhido?

A Filosofia lhe rebate com uma outra pergunta: aprazaria a alguém, sendo um rei, ter como servos somente escravos?

Boécio insiste; não entende que propósito existe em rezar sobre o que já é predestinado.

A Filosofia diz que muitos já passaram pela mesma angústia. Cícero é um dos que não puderam resolver a questão por suas mentes estarem muito imersas em desejos mundanos.

Ademais, muito já foi dito aqui sobre a bondade como reguladora do mundo, o mal que não existe em si e por si.

Boécio pergunta: tudo o que Deus conhece deve acontecer irrevogavelmente?

A Filosofia responde: não irrevogavelmente, mas parte deve acontecer – o que é necessário para nós e desejado por ele. Além disso, há as coisas possíveis, que em seu acontecimento ou não-acontecimento não causam danos. Deus sabe tudo, e há coisas que ele pode desejar prevenir.

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O que é a eternidade?

É a pergunta de Boécio.

A Filosofia diz que há três coisas sobre a terra:

1) as que duram um tempo, tendo começo e fim;
2) as que são eternas, com começo mas sem fim (como os anjos e almas humanas) e
3) a que é eterna, sem começo e sem fim, que é Deus.

Para nós, só existe o que está no tempo. Para Deus, tudo é presente.

Por isso, jamais deixe de se curvar diante dEle, pois que é todo-poderoso, todo bem, todo tempo. Busque-o, faça o bem, ame a virtude!

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Finda aqui o resumo dessa grande obra.

Na próxima semana, exporemos alguns excertos da encantadora pérola filosófica de Dante Alighieri, o Convivio (O Banquete).

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