Fortuna e Providência
Nada é criado sem propósito.
Providência = razão divina(conhecimento de tudo antes de acontecer)
A imagem do quadro na mente.
Destino (fortuna) = o trabalho de Deus dia a dia (destinação de formas, lugares, estações, proporções a todas as coisas)
O quadro sendo pintado.
Antes de acontecer, é providência; acontecido, é destino.
Nem tudo está sujeito ao destino, mas o que está sujeito ao destino forçosamente está sujeito à divina Providência.
A Filosofia expõe uma analogia sensacional:
As rodas de uma carroça giram sobre o eixo estático (Deus); o centro da roda (o homem bom e sábio) gira mais firme do que as bordas; os raios da roda são como os homens médios, em uma extremidade firmes e na outra muito rápidos (os maus) (assim, mesmo os piores homens estão conectados com Deus). A roda é o destino (roda da fortuna); o eixo é a Providência.
Todo destino é bom, pois ou recompensa ou pune.
A Filosofia questiona o julgamento dos homens sobre outros homens. Sabemos de suas ações, mas e do que se passa em seus espíritos, sabemos?
Ninguém é melhor avalista da alma do que Deus. Ele pune os maus e honra os bons. Muito acontece de julgarmos um homem como Deus nos julga. Há homens muito maus que não põem seus desejos em ação e vice-versa. Alguns bons homens podem ter seu poder arrancado para não comprometerem sua bondade. O homem sábio não deve amar a felicidade mundana além da conta, pois seguido ela é dada aos piores homens.
A Filosofia salmodia sobre a incrível ordem e harmonia do universo, o amor que tudo tem em seu servir a Deus, e o contentamento com o governo divino; do contrário, nada existiria. Servir ao Criador é existir.
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Sobre o livre-arbítrio
Boécio pergunta se temos livre-arbítrio, face à predestinação.
A Filosofia responde que todo homem possui liberdade, considerando que ele sabe o que quer. A razão traz discernimento, e o discernimento é o livre-arbítrio. Quanto mais próxima de Deus a mente do homem, mais livre; quanto mais presa a este mundo, menos livre.
Boécio fica perplexo com uma nova dúvida: se Deus predestina, como permite que o mal seja escolhido?
A Filosofia lhe rebate com uma outra pergunta: aprazaria a alguém, sendo um rei, ter como servos somente escravos?
Boécio insiste; não entende que propósito existe em rezar sobre o que já é predestinado.
A Filosofia diz que muitos já passaram pela mesma angústia. Cícero é um dos que não puderam resolver a questão por suas mentes estarem muito imersas em desejos mundanos.
Ademais, muito já foi dito aqui sobre a bondade como reguladora do mundo, o mal que não existe em si e por si.
Boécio pergunta: tudo o que Deus conhece deve acontecer irrevogavelmente?
A Filosofia responde: não irrevogavelmente, mas parte deve acontecer – o que é necessário para nós e desejado por ele. Além disso, há as coisas possíveis, que em seu acontecimento ou não-acontecimento não causam danos. Deus sabe tudo, e há coisas que ele pode desejar prevenir.
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O que é a eternidade?
É a pergunta de Boécio.
A Filosofia diz que há três coisas sobre a terra:
1) as que duram um tempo, tendo começo e fim;
2) as que são eternas, com começo mas sem fim (como os anjos e almas humanas) e
3) a que é eterna, sem começo e sem fim, que é Deus.
Para nós, só existe o que está no tempo. Para Deus, tudo é presente.
Por isso, jamais deixe de se curvar diante dEle, pois que é todo-poderoso, todo bem, todo tempo. Busque-o, faça o bem, ame a virtude!
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Finda aqui o resumo dessa grande obra.
Na próxima semana, exporemos alguns excertos da encantadora pérola filosófica de Dante Alighieri, o Convivio (O Banquete).
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