quinta-feira, 13 de maio de 2010

Trivium, as Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica, parte III

O TRIVIUM

Faculdades mentais
  • Cognição
    • Inferior (sensória) –> perceptos;
    • Superior (racional) –> conceitos;
  • Apetição
    • Inferiores (sensíveis) –> necessidades;
    • Superiores (racionais) –> vontade – ao bem, à verdade, à beleza;
  • Emoção (acompanha as duas anteriores)
    • Dor
    • Prazer

Lógica – operações do intelecto.

Gramática – todas as operações.

Retórica – faz escolhas discursivas, é extrínseca.

Segundo Miriam, a Lógica pode funcionar sem a retórica ou a poesia. Já a Retórica ou a Poesia são rasas sem a Lógica, e todas acima necessitam da Gramática.


Gramática Geral – mais filosófica. Relação entre as palavras e a realidade.
Gramática Especial – específica a uma língua. Relação das palavras com as palavras.


Morfologia
  • Palavras Categoremáticas (analogia: notas musicais, números, etc.)
    • Substantivas (designam uma substância)
      • Substantivos
      • Pronomes
    • Atributivas
      • Primárias – atributo da substância
      • Verbos (e inflexões)
      • Adjetivos
      • Secundárias (atributos dos atributos – advérbios)
  • Palavras Sincategoremáticas (“marcações do tempo”, “operações”)
    • Definitivas (associadas a uma palavra)
      • Artigos
      • Dêicticos
    • Conectivas (associadas a muitas palavras)
      • Preposições – conectam palavras
      • Conjunções – conectam frases
        • Expressas
        • Implícitas
      • Pura cópula – conecta sujeito e predicado.
(as interjeições não são propriamente classe morfológica, porque não pertencem à sintaxe nem à lógica)



Substâncias concretas – existem em si mesmas
Naturais
Artificiais

Abstrações são acidentes concebidos pela mente, mas que existem realmente por parte da substância. (mesmo o nome de sete das nove categorias acidentais são exemplos de substantivos abstratos).
A abstração é fundamental ao intelecto humano. Cada um dos ramos científicos e filosóficos abstrai da realidade um determinado aspecto.
Matemática – abstrai a quantidade;
Física – abstrai o movimento;
Metafísica – abstrai o Ser (“Ser enquanto Ser”).
Quanto mais avançamos, mais acumulamos substantivos abstratos, nuances, distinções.
(segundo nota do tradutor brasileiro, a obra Story of English aponta o fato de que Old English foi fortalecido e revolucionado pela inclusão de palavras capazes de expressar o pensamento abstrato, através da entrada do cristianismo na Inglaterra por Sto. Agostinho de Canterbury no final do séc. VI).




Morfologia Categoremática

A. Substantivos
  • Classificação lógica
    • Indivíduo – descrição empírica (concretude)
    • Espécie – descrição geral (abstração)
    • Gênero – descrição geral (abstração)
  • Classificação gramatical
    • 1) Número
      • Singular
      • Plural
        (em sentido estrito, um substantivo que nomeia um indivíduo não tem número, porque ele é único, é um nome próprio ou descrição empírica)
    • 2) Gênero
      • Masculino
      • Feminino
      • Neutro
      • Comum
        (no Inglês moderno, os substantivos têm gênero natural. No Alemão, Francês, Latim, eles têm genero gramatical, ou seja, requerem diferentes concordâncias)
    • 3) Pessoa
      • Pronome – concorda em pessoa, número e gênero com o seu antecedente substantivo; seu caso, porém, é determinado pela própria oração.
      • Pronome Relativo
        – faz a vez de um substantivo;
        – conecta orações;
        – subordina uma oração à outra.
    • 4) Caso – relação de uma substância ou pronome com outras palavras na frase.
      • Nominativo – caso do sujeito (único necessário a todas as frases)
      • Genitivo – indica quem possui
      • Dativo – indica o termo (conceito) para o qual segue a ação (objeto indireto)
      • Acusativo – nomeia o objeto que recebe a ação (objeto direto)
        A gramática especial de cada língua pode não distinguir estes 4 casos, contudo eles estão presentes em todas elas de uma forma ou de outra (o vocativo é considerado um caso especial de nominativo).
        Os casos podem ser expressos pela ordem das palavras, pelas preposições e pelas terminações.

As 10 funções gramaticais dos substantivos
  • Sujeito
  • Predicativo do sujeito
  • Objeto direto de um verbo
  • Objeto direto de uma forma nominal
  • Predicativo do objeto
  • Objeto de uma preposição
  • Modificador possessivo
  • Nominativo absoluto
  • Nominativo de discurso direto (vocativo)
  • Aposto (de qualquer um acima)
B. Atributivos – expressam os acidentes nas substâncias
  • Verbos
    • 1) Atributo com noção de tempo
      Aristóteles define-o como aquele que transmite, além do significado próprio, a noção de tempo e mudança (tempo = mudança = ação).
    • Verbos indicam a passagem do tempo (atualização de potências), não expressam o seu significado principal – para isto utilizamos substantivos abstratos ou advérbios.
    • 2) Tempo verbal – relação entre o tempo do ato e o tempo da referência ao ato. É essencial ao verbo. O tempo verbal não é uma mera variação acidental (Aristóteles compara os tempos verbais aos casos dos substantivos).
      Verdades gerais não são expressas com uma tensão verbal, pois as verdades são eternas (apesar de usarmos o tempo presente para tal).
    • 3) Modo – relação entre sujeito e predicado.
      • Indicativo (declarativo) – declaração factual, certa.
      • Potencial – possível ou contingente.
      • Interrogatório – pede informação e exige uma resposta em palavras.
      • Volitivo – exige uma resposta, usualmente em forma de ações. Faz referência direta somente ao futuro. Segue uma distinção pouco observada hoje:
        • Tom imperativo – “João, feche a porta”.
        • Tom optativo – “Que você tenha sucesso” (desejo)
        • Tom exortativo – “Quisera eu dispor de meios” (persuasão)
      • (Nas gramáticas especiais, é comum se tratar o indicativo e o interrogatório sob o mesmo modo, porque o verbo gramaticalmente não muda)
        Somente os modos indicativo e potencial podem expressar veracidade ou falsidade.
    • 4) Verbos transitivos – expressam uma ação que começa no sujeito (agente) e vai até (trans + ire) o objeto (receptor). O objeto pode agir sobre si próprio, como em “ele se cortou”. Sempre exige um complemento. Alguns exigem tanto o objeto direto quanto o indireto (“dar”, p. ex.). Outros, como “eleger”, exigem dois acusativos para completar seu sentido (“nós o elegemos presidente”).
      • Diretos
      • Indiretos
    • 5) Verbos intransitivos – expressa ação que não se dirige a nenhum objeto (“o pássaro voa”).
      • Completos (“brotar”)
      • Incompletos – requer um complemento (“tornar”).
        (verbo copulativo)
    • 6) Cópula – liga um atributivo (adjetivo ou verbal) ou substantivo a um sujeito.
      • “Pura Cópula” = “ser” na nossa língua – verbo que liga um predicado a um sujeito. Não expressa um atributo com noção temporal. Na Gramática Geral, é uma palavra sincategoremática, como veremos.
        Já o verbo intransitivo flexionado “é” (ser) não é um verbo copulativo, mas uma palavra categoremática que dá a idéia de existência.
        Verbos copulativos (cópula + verbo)
        • Verdadeira cópula (“as folhas verdes ficam amarelas”)
        • Pseudo-cópula (“a maçã cheira a azedo”)
          Expressa percepções sensíveis. Gramaticalmente perfeito, mas ilógico e literalmente falso. A maçã não pode ela mesma cheirar nada. O cognoscente é que cheira a maçã.
  • Verbos nominais - Não afirmam e não expressam modo. Por tal, não podem formar frases auto-suficientes compreensíveis.
    • Infinitivo – substantivo abstrato
    • Particípio
    • Gerúndio – pode desempenhar todas as funções de um substantivo. Na língua portuguesa, assumiu a função de particípio presente latino.
  • Adjetivos – expressam um atributo da substância, sem noção de tempo.
  • Secundários – expressam atributos de atributos.
    • Advérbios (“anda rapidamente”)


Morfologia Sincategoremática


A. Definitivas (determinativas) – quando associada a um nome comum, é capaz de destacar uma unidade de um grupo (classe).
Palavra definitiva + nome comum = descrição empírica.
  • Artigo – nunca sozinho.
    • Indefinido – não designa, só seleciona (pode significar também a primeira impressão de algo).
    • Definido – singulariza (pode significar familiaridade estabelecida – “o homem feio que vi ontem” – ou eminência – “o filósofo”).
  • Dêictico – designativo que aponta, que demonstra sem conceituar.
    • Definitivo (“este lápis”)
    • Com função de pronome (“este é um lápis”)
      Trata-se de uma distinção essencial na Gramática Geral:
      Modificador definitivo –> sujeito – “esta maçã”
      Modificador atributivo –> predicado – “maça verde”
      As gramáticas especiais costumam, pelo contrário, tratar o definitivo como um adjetivo, por causa da forma gramatical, flexão, etc.
      (Importante: análise funcional ≠ análise morfológica.
      Em “a garota ruiva é minha prima”, ruiva é um modificador definitivo, mas nenhuma palavra nesta sentença é propriamente definitiva. Não separa-se por vírgula o modificador definitivo do seu substantivo; somente separa-se o modificador atributivo, se for uma oração)
B. Conectivas – “análogas ao cimento, pois mantém juntas as classes categoremáticas na unidade de pensamento expressa na frase”.
  • Preposições – une substantivos que não se misturam naturalmente (como unir “lençol” a “cama”? –> “lençol sobre a cama”)
    • Relações espaciais
    • Relações intelectuais (“sob autoridade”, “agir por ciúme”)
    • Compostos (overlook, “entrever”)
    • Relações genitivas (“das crianças”, “para as mulheres”)
    • Adverbiações (walk around – transmitem, contudo, um significado mais vago)
  • Conjunções – unem frases explícitas (“os convidados chegaram e o jantar foi servido”) e implícitas (“Exército e Marinha preparam-se para a guerra”).
    • Coordenativas (puras) – unem frases ou orações independentes, ligando ou separando seus sentidos.
    • Subordinativas (não-puras) – unem frases, mas não o sentido; só separam.
      (a menos que as orações coordenativas sejam bastante curtas, deve-se usar vírgula antes da conjunção. Advérbios conjuntivos podem ser coordenativos – “daqui”, “por isso”, “então” – e subordinativos – “enquanto”, “onde”, “quando”. Com advérbios conjuntivos, entre orações coordenativas, usar ponto e vírgula ou ponto; entre subordinativas, usar vírgula ou não usar nada)
    • Pura Cópula – conecta sujeito e predicado. Fundamental à Lógica. Nela e na Gramática Geral, a pura cópula não é nem o predicado nem uma parte deste, mas completamente distinta. Toda frase afirmativa simples é composta de sujeito, pura cópula e predicado. A pura cópula é o complemento subjetivo (predicativo do sujeito).
      • Explícita (“a grama é verde”; “a rosa está desabrochando”)
      • Implícita (“o Sol brilha” – pode se tornar explícita pelo que a língua inglesa chama de progressive ou continuous form: “the sun is shining”)
        (se o verbo tem modificações, ou se é transitivo ou copulativo, então o complemento subjetivo é uma combinação – constructo –, um conceito composto: “o vento fustiga a árvore” – atributivo ligado a “vnto” pela pura cópula “está”. A realidade da qual se fala é de um vento “fustigante de árvores”.
        A locução verbal que indica a continuidade da ação deixa claro, explicita que a pura cópula “está”, sofrendo flexão, desempenha três funções importantes na Gramática Geral: 1) afirma, 2) expressa o modo e 3) indica o tempo verbal, que não é uma característica essencial do verbo)
        (Verbo intransitivo: “Deus é”;
        Verbo copulativo/predicativo ou cópula verdadeira: “Deus é bom”;
        Pseudo cópula: “o ar cheira bem”;
        Pura cópula: “o céu é azul”)



Análise sintática na Gramática Geral

Toda frase simples pode ser dividida em sujeito completo e predicado completo.
Uma frase composta pode ser dividade em frases simples.
Na Lógica, é importante a divisão entre sujeito completo, pura cópula e predicado completo.
Análise sintática mais detalhada (funcional)
  1. sujeito simples
  2. predicado simples (com complemento(s), se presente(s))
  3. oração (grupo de palavras com sujeito e predicado e que funciona como um substantivo, ou um atributivo ou um definitivo)
  4. um modificador de um modificador
  5. conectivos
Outro tipo de análise sintática – unidades funcionais (materialmente)
  1. uma palavra
  2. uma sentença (sem sujeito e predicado e que funciona como um substantivo, ou um atributivo ou um definitivo – pode ser uma sentença proposicional ou verbal)
  3. uma oração (com sujeito e predicado e que funciona como um substantivo, ou um atributivo ou um definitivo)


Função da Gramática – estabelecer leis para relacionar símbolos e assim expressar pensamentos.
Símbolos categoremáticos – relacionados
Símbolos sincategoremáticos – relacionantes
Frases – relações
  • de substituição
  • de combinação
  • de separação


A. Substituição
  • Expansão
    • Nome próprio –> descrição empírica
    • Nome próprio –> descrição geral (gato –> animal pequeno, peludo, com garras afiadas e que mia)
    • Palavra –> frase (extensão nem sempre inequívoca, como em “planalto” estendida a “um plano alto”)
    • Sentença –> frase ou grupo de frases (“céu nublado” estendida a “o céu está nublado”)
  • Contração
    • Descrição empírica –> nome próprio (não temos nomes próprios para todos os entes, contudo)
    • Descrição geral –> nome comum
    • Frase –> sentença (sem verbo) (“o homem tem uma barba ruiva” a “o homem de barba ruiva”)
    • Sentença –> palavra (“homem que vende” a “vendedor”)
      (a contração de algumas sentenças cria uma mudança tanto na dimensão lógica quanto na psicológica, como em “homem devoto”)
(Estilo de linguagem: preferível usar a contração com adultos; a expansão com crianças)
    B. Combinação
    • Sincategoremáticas – como vimos, os mais importantes meios de relacionar palavras, indispensáveis a qualquer língua.
    • Flexões – idem acima (importantíssimas em línguas como o latim).
    • Ordem de palavras – muito importante numa língua de menor flexão, como o inglês (a dependência do inglês à ordem promove algumas construções gramaticais ilógicas, os retained objects, como em “he was shown the picture” – voz pseudo-passiva)
    • Ênfase – importância oral (“Ele era o meu amigo”, “Ele era o meu amigo”).
    C. Separação
    • Pontuação
      • Escrita
      • Oral (dicção) – faz pela leitura aquilo que a pontuação faz pela escrita.


    Encerramos aqui a terceira parte. No próximo post, o resumo dos termos e da sua utilização na Lógica.

    Um comentário:

    1. Uma pergunta: qual o exemplo de substantivo como "modificador possessivo"?
      Grato!

      ResponderExcluir